Influência genética na alimentação
- Giovanni
- 3 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Você já se perguntou por que algumas pessoas amam brócolis e outras não suportam nem chegar perto? Ou por que alguns não vivem sem um docinho e outros preferem uma refeição salgada? A resposta pode estar nos nossos genes! As nossas preferências alimentares, ou seja, aquilo que gostamos ou não de comer, podem ser influenciadas pela genética. Vamos entender melhor como isso funciona.

Preferências de Paladar e os Genes
Todos nós nascemos com certas preferências alimentares, mas os genes podem ter um papel importante em como percebemos os sabores. Por exemplo, existe um gene chamado TAS2R38 que está associado à capacidade de perceber compostos amargos. Isso significa que algumas pessoas podem achar certos vegetais crucíferos, como brócolis e couve-de-bruxelas, mais amargos do que outras. Se você não gosta desses vegetais, pode culpar seus genes!
Da mesma forma, algumas pessoas têm variações genéticas que aumentam sua sensibilidade ao sabor doce. Essas variações podem influenciar suas escolhas alimentares e a quantidade de açúcar que consomem. Quem tem maior sensibilidade ao doce pode preferir alimentos menos açucarados, enquanto outros talvez busquem mais sobremesas açucaradas para satisfazer o paladar.
Genética e Metabolismo dos Nutrientes
Além de afetar nosso gosto pelos alimentos, a genética também influencia como nosso corpo processa os nutrientes. Por exemplo, o gene APOA2 pode afetar a forma como o corpo lida com dietas ricas em gorduras saturadas, o que pode aumentar ou diminuir o risco de obesidade.
Outro exemplo é a digestão da lactose. Algumas pessoas possuem uma variação genética que permite a digestão da lactose, o açúcar encontrado no leite, mesmo na idade adulta. Já outras podem ser intolerantes à lactose porque seus corpos não produzem a enzima lactase necessária para digeri-la. E até mesmo podem ter uma diminuição da produção dessa enzima em decorrência de doenças intestinais como a de Crohn, ou com o envelhecimento. Até mesmo a forma como nosso corpo utiliza os ácidos graxos ômega-3, que são importantes para a saúde do coração e do cérebro, podem ser influenciada por nossos genes. O gene FADS1 está envolvido na conversão de ômega-3 de cadeia curta em suas formas de cadeia longa, que são mais benéficas para a saúde. Se houver variações nesse gene, a capacidade do corpo de usar ômega-3 pode ser afetada.
Como os Genes Afetam Nossas Respostas aos Macronutrientes
Os macronutrientes são os nutrientes que precisamos em maiores quantidades, como carboidratos, proteínas e gorduras. A forma como nosso corpo responde a esses nutrientes pode variar de acordo com nossa genética. Por exemplo, algumas pessoas têm mais cópias do gene AMY1, que é responsável pela produção de amilase salivar, uma enzima que ajuda a digerir carboidratos. Pessoas com mais cópias desse gene tendem a digerir carboidratos mais rapidamente, o que pode influenciar o controle do peso. A metabolização de proteínas também pode ser afetada pela genética. A necessidade de aminoácidos, que são os blocos de construção das proteínas, pode variar de pessoa para pessoa. Isso pode impactar a síntese proteica e o crescimento muscular.
Genética e Doenças Relacionadas à Dieta
Nossa genética também pode nos predispor a certas doenças relacionadas à dieta. Por exemplo, os genes FTO e MC4R têm sido associados à predisposição genética para a obesidade. Indivíduos com certas variantes genéticas nesses genes podem ter um maior risco de ganho de peso e dificuldade em perder peso, independentemente da dieta que seguem.
Outro exemplo é o risco de diabetes tipo 2. Polimorfismos em genes como TCF7L2 estão associados ao risco dessa doença, pois influenciam a resposta do corpo à glicose e à insulina. Variantes genéticas em genes que regulam o colesterol e o metabolismo lipídico, como o gene PCSK9, podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
Dieta Personalizada com Base na Genética
Com o avanço da ciência, estamos começando a entender como a nutrigenômica pode nos ajudar a personalizar nossa dieta com base no nosso perfil genético. Isso significa que, no futuro, poderemos ajustar nossas dietas para otimizar a saúde, levando em consideração nossas predisposições genéticas e necessidades nutricionais únicas.
Atualmente, já existem empresas que oferecem testes genéticos para analisar variantes associadas à nutrição e sugerir ajustes dietéticos personalizados. No entanto, a aplicação prática e a eficácia desses testes ainda estão em estudo e são tema de debate.
Considerações Éticas e Práticas
Ao discutir a genética na alimentação, também é importante considerar questões éticas e práticas. A coleta de dados genéticos levanta preocupações sobre privacidade e confidencialidade. É fundamental garantir que essas informações sejam usadas de forma ética e segura. Além disso, o custo de testes genéticos ainda é uma barreira para muitos, o que limita a acessibilidade a dietas personalizadas baseadas em genética. E, claro, a interpretação dos resultados dos testes genéticos deve ser feita por profissionais qualificados para evitar mal-entendidos e garantir recomendações apropriadas. É interessante lembrar também, que não significa que a única razão dos desejos de doce, ou do ganho de peso seja genética. A genética nos proporciona uma predisposição a inúmeras coisas, como doenças por exemplo. Mas não significa que estas predisposições irão se concretizar, porque isso pode variar de acordo com o estilo de vida de cada um.
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